Você sendo ou não escritor é sempre interessante ler sobre o processo criativo de outros autores. Entender melhor como aquela pessoa desenvolve e elabora suas histórias e personagens acaba sendo uma jornada que para nós, amantes dos livros, incrível de ser percorrida. Hoje vamos falar um pouquinho sobre a obra Fazendo Ana Paz, da Lydia Bojunga, que trata justamente disso.
Lygia Bojunga é uma escritora brasileira bastante consagrada por seu trabalho com a literatura infanto-juvenil. Obras como O sofá estampado e A bolsa amarela configuram a lista de escritos da autora, e Lygia também possui importantes prêmios como o Prêmio Hans Christian Andersen e o Prémio Jabuti. Dizer o quanto é interessante conhecer o processo criativo de uma autora como essa é até desnecessário, mas ver a forma com que a autora escolheu para abordar esse assunto em Fazendo Ana Paz vai te fazer sorrir do começo ao fim.
Publicado em 1991, Fazendo Ana Paz traz a própria Lygia como narradora e, apesar de ter tudo para ser um livro de não ficção, seu conteúdo tem uma narrativa com um quê fictício, o que torna a leitura ainda mais intrigante. Lygia nos conta como essa personagem, Ana Paz, entrou em sua vida e começou a aparecer em todos os momentos, fazendo exigências e exigindo atenção. Ao decorrer da leitura vamos, junto com a narradora, conhecendo mais sobre Ana Paz e vendo sua personalidade ser construída.
É muito bonito ver a forma que Lygia escolheu para escrever sobre como um personagem é elaborado. Claro que nem todos os autores vão ter o mesmo processo criativo da autora, mas é interessante mesmo assim ver a forma que ela descreve a invasão de Ana Paz em sua vida. A personagem acaba se tornando real e é descrita como uma presença constante na vida da Lygia, que, por sua vez, de autora e narradora, acaba tomando também o lugar de personagem em Fazendo Ana Paz. Lygia não falha em mostrar como pode ser adorável e frustrante ter sua mente recebendo visitas constantes de seus personagens, expondo uma caminhada longa com que muitos autores podem se identificar.
O livro é curto, mas mesmo assim ficamos presos desde o começo. É bem difícil não ler sobre o personagem do Pai de Ana Paz, por exemplo, e não tentar, assim como a narradora, descobrir que tipo de pai ele seria; ou, assim como Ana Paz no sonho da escritora, exigir que ele se faça presente. Acompanhar a narradora em sua busca pelos ingredientes perfeitos para construção de sua personagem, acabam inserindo o leitor também nesse processo, despertando a curiosidade – que é sempre um dos maiores motivadores de qualquer leitor – e estimulando a mente para podermos construir junto com a narradora essa personagem misteriosa.
Fazendo Ana Paz é um texto bastante subjetivo e trabalha com a imaginação do próprio leitor, quebrando um pressuposto da “verdade empírica” e de uma interpretação matemática de um texto literário, mostrando ao leitor como a ficção é construída nas lacunas, preenchida com a imaginação à medida que o texto se desenrola. Em Fazendo Ana Paz, não é só a autora que vira personagem, já que o leitor acaba se sentindo como elemento ativo dessa história.
A escrita de Lygia é fluída e antes que você perceba, já vai ter acabado o livro e estar querendo conhecer mais do trabalho da autora, querendo conhecer alguns dos personagens que ela cita em Fazendo Ana Paz. Então que tal dar uma chance pra essa obra cativante?
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Sol meus textos | twitter | skoob | goodreads | filmow Escritora de histórias bregas e especialista em procrastinação. Apaixonada por cultura pop, acredita que toda história tem potencial pra ser uma boa comédia romântica e tá sempre pronta pra indicar uns chás. |