
[Descrição da imagem: Está apresentada a cabeça de um robô, cortada, focando nos seus olhos.]
O livro é um dos principais clássicos da ficção científica, sendo formado por nove contos que se entrelaçam através de alguns aspectos e personagens em comum, mantendo uma coesão entre si. As histórias de cada conto são contadas por Susan Calvin, ou dra. Calvin, psicóloga roboticista, sendo entrevistada já quase no fim da vida.

[Descrição da imagem: Foto de um leitor digital com a capa do livro Eu, Robô, com o título em letras grandes ocupando quase toda a tela, por trás da imagem da cabeça de um robô, centralizada. Acima, o nome do autor, Isaac Asimov.] Legenda: Minha edição é da editora Aleph, formato e-book, com tradução de Aline Storto Pereira.
O aspecto mais explorado nos contos é a relação dos próprios robôs com as três Regras da Robótica, propostas pelo próprio autor, estabelecidas no âmbito do seu universo como uma forma da humanidade garantir sua superioridade:
1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.”
2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.
3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.
Apresentando diversas situações que constituem verdadeiros dilemas causados por “conflitos” entre as três leis, vemos a dra. Calvin e outros especialistas em robóticas interpretando os conflitos psicológicos de vários robôs. Um exemplo simples e esdrúxulo: a um robô é dada determinada ordem, mas não de forma muito enfática, e quando este vai cumpri-la, conforme a segunda lei, percebe que está colocando sua própria existência em risco, ou seja, indo contra a terceira lei. Como a ordem dada não teve ênfase o suficiente, o robô acaba “preso” num dilema eterno entre obedecer e não obedecer, o que provoca um tanto de “loucura”.
Entretanto, a magia da obra acontece justamente no momento de investigação para descobrir o motivo dos robôs em cada história estarem, aparentemente, defeituosos. Através de análises dos comportamentos desses seres peculiares, os humanos roboticistas interpretam como funciona as “mentes” robóticas até desvendarem a causa, o que quase sempre acaba recaindo sobre a questão das três leis acima mencionadas.
Nessas investigações, a exploração do psicológico dos robôs acaba por revelar muito, do pior e do melhor, sobre os seres humanos. Um trecho bem interessante que demonstra isso é quando Susan está abordando a questão de um homem ter sido acusado de ser um robô e demonstra como tendo como base apenas as três leis não se poderia garantir essa hipótese:
[…] se parar para pensar sobre isso, as três Regras da Robótica são os princípios essenciais que orientam muitos dos sistemas éticos do mundo. […] Para explicar de forma simples: se Byerley seguir todas as Regras da Robótica, pode ser que ele seja um robô, e pode ser que seja apenas um homem muito bondoso. […] Atitudes como a dele só poderiam vir de um robô, ou de um ser humano muito honrado e decente. Mas veja bem, não se pode diferenciar entre um robô e os melhores seres humanos.
Através da manifestação de pensamentos como esse de Susan Calvin, Asimov nos apresenta diversas reflexões sobre a humanidade, que cria seres superiores e “perfeitos” com base no que há de melhor da sua própria ética, mesmo que seja utilizado para garantir a dominação, embora não pareça ser capaz de seguir bem essas diretrizes básicas. Essa descrença nos humanos é tão forte que é dado a entender que robôs tomando as rédeas dos caminhos que a humanidade deve seguir garantiria uma vida bem melhor do que decisões tomadas pelos seres humanos. Se esse pensamento vai se confirmar em outras obras do universo, ainda irei descobrir.

[Descrição da imagem: Várias fileiras com robôs humanoides exatamente iguais, em formação militar] Legenda: Imagem meramente ilustrativa utilizando o filme que adaptou a obra.
Enfim, acredito que Eu, Robô seja um deleite para qualquer pessoa que goste de robôs e também para qualquer pessoa que goste de dilemas éticos e filosóficos, dando muito pano pra manga pra discutir questões de ética e tecnologia. Mas independente de tudo isso é também, por certo, uma leitura extremamente agradável, daquelas que você consegue passar horas viajando num mundo diferente do nosso (mas nem tão diferente assim).
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Marina meus textos | filmow | skoobMilitante do Levante Popular da Juventude, de esquerda, feminista, lésbica e afrontadora da família tradicional brasileira. Nas horas vagas, estuda Direito, devora quadrinhos, lê livros, assiste filmes e algumas séries. |