O quebra-cabeça de A longa viagem a um pequeno planeta hostil e a beleza de sua lição final

a longa viagem a um pequeno planeta hostilSemana passada eu falei de Vejo você no espaço, um livro infantil sobre esperança e força e como o espaço sideral entra no meio disso tudo. Mantendo a temática, hoje eu falo sobre A Longa Viagem a Um Pequeno Planeta Hostil, uma space opera pra quem gosta de séries como Parks and Recreation e Brooklyn Nine Nine e ficção científica! Achou a combinação meio louca? Então espera pra saber mais sobre o livro!

A Longa Viagem acompanha a tripulação do Wayfarer, uma nave que abre buracos no espaço sideral para diminuir a distância entre dois pontos em específico, e essa é a premissa do livro. A princípio, pode parecer meio bobo, mas a beleza desse livro está justamente na construção dos personagens e na relação entre eles – o que torna tudo ainda melhor. Continuar lendo

Aprendendo a ser forte com crianças e foguetes: A beleza e inocência de Vejo você no espaço

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De vez em quando, gosto de pegar livros infantis pra ler e passar o tempo. É divertido poder voltar, pelo menos por um tempinho, lá pros dez, onze, doze anos e ver como as crianças dessa idade lidam com o mundo e com os seus mistérios. Eu sempre me surpreendo com o quanto a gente pode aprender com esses personagens e com Vejo você no espaço, do Jack Cheng (publicado aqui no Brasil pela Intrínseca), não foi diferente.

Peguei esse livro pra ler porque a capa era bonita e porque, de uns tempos pra cá, ando me interessando por ficção científica e astronomia e essas coisas todas (O último livro que eu li nessa linha foi justamente A longa viagem a um pequeno planeta hostil, da Becky Chambers, publicado aqui no Brasil pela Darkside – e até agora não consegui superar). E também porque parecia um livro infantil divertido com um protagonista não branco, descendente de filipinos.

Qual foi minha surpresa quando abri a primeira página e me deparei com um texto inteiro escrito em forma de gravação. Vejo você no espaço nada mais é do que a junção de todas as gravações que Alex Petroski, um garoto de 11 anos, faz em seu iPod de Ouro contando suas aventuras em um acampamento para fãs de astronomia e as consequências dessa viagem. Continuar lendo

A HQ Alho Poró, da Bianca Pinheiro

No post de hoje, eu venho falar sobre uma HQ de uma quadrinista que eu já falei aqui. Alho Poró da Bianca Pinheiro é seu quadrinho mais recente e foi publicado de forma independente por financiamento coletivo no Catarse. Caso você não conheça, a Mamá já falou sobre o Catarse aqui nesse post. Muitos quadrinhos independentes são publicados por financiamento no Catarse, então fica de olho nos nossos posts sobre quadrinhos brasileiros que muitos vieram de lá também.

Como eu já disse, essa não é a primeira vez que falo de algo produzido pela Bianca. No ano de estreia do blog e do nosso especial, o Pavê Trevoso, eu fiz uma resenha de Dora.

Quando eu li Dora, li sem expectativa nenhuma e me deixei levar pela tensão, suspense e a dúvida. Aproveitei a história conforme a narrativa ia se desenrolando e se desenvolvendo. Me prendeu de início ao fim e terminei a leitura completamente admirada pela inteligência de quadrinista da Bianca e pelo trabalho de uma qualidade excelente.

Dito isso, já sabia que seria mais dura lendo Alho Poró, esperando o tipo de jogo entre narrativa x visual que juntos formam uma combinação em que você não consegue parar de ler, totalmente envolvido na leitura. E felizmente, posso afirmar que isso não deixou de acontecer. Alho Poró me prendeu de início ao fim e ouso dizer que me deixou mais intrigada e curiosa para saber o que ia acontecer ainda mais do que em Dora.

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5 Séries YA pra você ler esse ano (que já foram terminadas)

Uma das minhas resoluções de ano novo no ano passado era finalmente voltar a terminar de ler as milhões de séries que eu comecei nos últimos anos. Na minha estante, tinha séries paradas desde 2010, séries esquecidas no churrasco e completamente deixadas de lado.

Infelizmente, a resolução não deu certo no ano passado mas está dando certo esse ano sim. E apesar de alguns tropeções, de achar séries que anos depois ficaram meio ruins, ainda tem algumas séries boas que valem a pena retornar pra ler.

Vem conferir!

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O Sonho da Sultana: Primórdios da ficção científica feminista

“Se você diz não, eu sei que é não (ô se é não).

E que só é sim, se assim você disser.

Não importa o que é que você vai vestir,

eu não vou te tocar sem você consentir.”

(Marchinha de Carnaval “Se você quiser”, disponível aqui)

Aproveitando o post de hoje para começar desejando que estejam passando um ótimo Carnaval, seja como tiverem escolhido curtir o feriado, festejando nas ruas ou aproveitando um descanso em casa! E, claro, lembrando que apesar da linda festa que o povo brasileiro promove nesses dias, é também um momento que muitas contradições e problemas da nossa sociedade podem ficar mais evidentes, então é importante que continuemos na luta nesses momento para garantir um momento divertido para todos, sem preconceitos (atenção para as fantasias desrespeitosas!), sem assédios, enfim, deixando todas e todos festejarem em paz apenas com muita alegria!

Inclusive hoje temos uma resenha que nos ajuda a refletir sobre algumas das opressões em nossa sociedade, advindas do sistema patriarcal que vivemos. Trata-se de resenha sobre o conto O Sonho da Sultana, da autora Roquia Sakhawat Hussain, da região que à época era chamada de Bengala (tendo sido dividida posteriormente tornando-se parte da Índia e Bangladesh). Originalmente publicada em bengali em 1905, a obra é considerada uma das precursoras da ficção científica feminista e foi disponibilizada em português gratuitamente, em 2014, pelo projeto Universo Desconstruído (tradução por Lady Sybylla).

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Literatura assexual pra quando bater a bad (ou pra qualquer hora, de verdade)

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Nessa última semana, saiu a notícia de que a homossexualidade de Alvo Dumbledore não vai estar presente no próximo filme de Animais Fantásticos e Onde Habitam. Fãs ficaram indignados, o que é esperado, e J.K. Rowling recorreu ao Twitter para defender o filme  e suas escolhas. Verdade seja dita, eu não dei muita atenção ao que a autora de uma das sagas que eu mais amo no mundo tinha a falar. Já faz um tempo que Rowling vem dando bola fora atrás de bola fora quando o assunto é Harry Potter. Ela defender que Dumbledore ser um homem gay não é importante pro plot (quando lembramos que ele vai enfrentar o homem por quem era apaixonado na adolescência) é só mais um erro numa fila que só cresce.

No meio disso tudo, algumas pessoas vieram perguntar “por que colocar sexualidade em um filme para crianças?“. Bom, resumidamente, porque ela já está lá desde o começo. Nessa sequência de tweets da Tristina Wright (em inglês), ela explica como a heterossexualidade está presente desde o primeiro capítulo do primeiro livro, quando Rowling nos apresenta os tios casados de Harry, e não para mais. Todos os casais de Harry Potter são héteros e o único personagem gay só foi descoberto gay anos depois da publicação dos livros. É engraçado (pra não dizer dolorido) pensar que as pessoas veem relacionamentos só como sexo.

Engraçado (dolorido) porque, no fim das contas, nossa sociedade é assim. Sexo é e sempre foi o padrão quando pensamos em relacionamentos, principalmente relacionamentos não héteros. Imagina o que isso não faz com a cabeça de alguém que não sente atração sexual por ninguém. Imagina como é ser assexual em uma sociedade que lê “Dumbledore é gay” e já sai gritando que isso não pode aparecer nos filmes, filmes que focam nele e no homem por quem ele era apaixonado, porque esses são filmes infantis.

Quando todo mundo foca em sexo, ser assexual machuca.

E é por isso que é tão importante ter livros e filmes e séries com personagens assexuais. Já falei sobre isso aqui no Pavê ao apresentar Sirens. Acontece que a Voodoo é uma personagem secundária e, apesar dela ter bastante espaço dentro da série, o foco não é ela. Mas isso não é motivo para se desanimar porque Tash e Tolstói e Garotas Mágicas Super Natalinas existem (e eu prometo que vou tentar segurar os spoilers, viu?). Continuar lendo

Tartarugas até lá embaixo é o melhor livro de John Green, mas ainda tem problemas

Um dos desafios da dor, seja física ou psíquica, é que só conseguimos nos aproximar dela através de metáforas. Não temos como representá-la como fazemos com uma mesa ou um corpo. De certo modo, a dor é o oposto da linguagem.

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[Descrição da imagem: Num fundo branco, aparece em destaque a capa do livro “Tartarugas até lá embaixo”, de John Green. A capa é bege e tem uma espiral na cor laranja afunilando-se enquanto chega à extremidade da capa. Ainda, é possível ver o selo da Editora Intrínseca e, também, ao lado do nome do autor, lê-se “autor de A culpa é das estrelas”.]

Resolvi começar o post de hoje com essa citação de Tartarugas até lá embaixo, do John Green, porque ela sintetiza o que é esse livro e o que John Green tenta fazer ao longo de suas 266 páginas.

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Você conhece a lenda do Ipupiara? Um conto por H. Pueyo

Se você é desses que adora ouvir histórias cheias de brasilidade, com lendas e criaturas do nosso folclore brasileiro, veio ao lugar certo.

O post de hoje é o conto “Ipupiara”, escrito pela H. Pueyo e publicado na 15ª edição da revista Trasgo – uma revista online trimestral de contos de ficção científica e fantasia, trazendo sempre autores e artistas brasileiros. A Mamá já falou deles nesse post, sobre o projeto de trazer o material em meio físico também.

Para quem está se perguntando quem é Ipupiara, é claro, recomendo muitíssimo a leitura do conto. Mas só para dar uma contextualização, é uma espécie de monstro marinho que fazia parte da mitologia de dos povos tupis que habitavam o litoral do Brasil no período de colonização. Diz a lenda que ele foi encontrado e morto na capitania de São Vicente. Tanto é, que tem uma estátua lá da figura até hoje. A Sol até já mencionou isso no twitter uma vez.

E que meio mais divertido, intrigante e fascinante conhecer lendas brasileiras por meio de uma história? Em um jeitinho bem brasileiro? O conto do Ipupiara escrito pela H, Pueyo começa com dois homens, Isidoro e Andirá, no período de Brasil-Colônia. Isidoro, um português recém chegado e coletor de impostos, contratou Andirá, cabloco e filho de um bandeirante, para leva-lo ao interior, com o intuito de apadrinhar o filho recém-nascido de uma prima.

Ipupiara_Statue[Descrição da imagem: Estátua do Ipupiara de São Vicente, com uma cabeça de monstro, tórax de homem, garras e uma cauda, a estátua está sob a água, atrás tem uma parede de pedras e ao fundo a rua com uma casa e umas árvores/plantas.]

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A Trilogia Grisha: ‘young adult’ com uma nova perspectiva

Ao longo da existência do blog, já falamos várias vezes sobre livros do gênero YA, lançados recentemente ou não. Um dos gêneros que nós da equipe mais gostamos, tem sido bastante explorando na literatura mundial nos últimos anos, com muitas obras que, inclusive, chegamos a resenhar por aqui.

No post de hoje, mais uma vez trago uma recomendação de livros sobre fantasia – um dos meus gêneros favoritos de todos os tempos – e como a série A Trilogia Grisha, de Leigh Bardugo, apresenta uma perspectiva diferente do gênero young adult, fazendo parte de um movimento que traz mudanças significativas para a construção de histórias e seus respectivos personagens. Vem com a gente explorar esse universo fascinante!

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Quando me descobri negra: a delicadeza bruta de um relato sincero

É sempre muito bom encontrar leituras que acabam sendo importante para nós e nos ajudam a enxergar o mundo de outra forma. É sempre ótimo ler aquelas passagens que te deixam pensando “nossa, isso é tão eu!”. Foi essa sensação maravilhosa que eu tive enquanto lia Quando me descobri negra, esse livro lindo da Bianca Santana, do qual vamos falar um pouquinho hoje!

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